Foto: Igor Luigi. |
Serra Talhada foi destaque, no
último dia 30 de junho, na Folha do Estadão – Estado de São Paulo, como cidade
pioneira em mudanças climáticas. A matéria, publicada com o título: “Pequenas
cidades do País adotam medidas para tentar frear as mudanças climáticas”,
mostra que a Capital do Xaxado, se esforça contra o aquecimento global, no
nível de cidades de porte médio. Confira:
Serra Talhada, no sertão pernambucano, é terra do
cangaceiro Lampião e considerada a Capital do Xaxado, mas quer ficar conhecida
por outro motivo: os esforços contra o aquecimento global. A cidade, de 90 mil
moradores, foi a primeira brasileira de porte médio a assinar o Pacto Global de
Prefeitos pelo Clima e a Energia.
O exemplo mostra que não são somente os grandes
centros urbanos que precisam agir e inspira mais municípios de porte menor a
buscarem medidas para reduzir a poluição atmosférica. De acordo com o Sistema
de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima,
88% das emissões dos municípios do País ocorrem em locais com até 100 mil
habitantes (grande parte pelo desmatamento).
Os efeitos da crise climática já são visíveis.
Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Pernambuco, a
seca prolongada reduziu as terras destinadas à lavoura e à pastagem de gado e
cavalos, levando à transição para rebanhos mais resistentes à caatinga, como
bodes e carneiros.
Entre 2008 e 2018, com chuvas abaixo da média,
Serra Talhada viu o setor agropecuário recuar 6,8% nesse período. Além da
pecuária, a renda local vem da produção de mel e da agricultura familiar.
INVENTÁRIO DE EMISSÕES
O primeiro passo adotado pela cidade foi um
inventário das emissões de gases de efeito estufa, segundo o qual o setor de
transportes é responsável por 58% e o de energia, por 32%. Segundo o secretário
municipal de Meio Ambiente de Serra Talhada, Júnior Moraes, foram criadas
ciclovias e o parque de iluminação pública foi modernizado.
Houve também a abertura de novos espaços públicos
verdes, como praças e parques urbanos. Além disso, há o incentivo aos cidadãos
com desconto no IPTU de 50% para quem utiliza energia solar ou para quem planta
uma árvore em sua residência. “O inventário de emissões de gases de efeito
estufa embasou a criação da Comissão Municipal pela Ação Climática de Serra
Talhada, permitindo estabelecer metas e objetivos de mitigação, mas também de
adaptação”, diz Sandino Lamarca, consultor técnico do Pacto Global de Prefeitos
pelo Clima e a Energia.
O pacto é um movimento voluntário de prefeitos de
mais de 13 mil cidades, que se comprometem a promover políticas públicas
voltadas à adaptação climática.
ENFRENTAMENTO
As ações de enfrentamento à estiagem contaram com a
formação dos moradores das zonas rurais de Serra Talhada para uma Brigada de
Primeira Resposta a incêndios, também causados pela seca intensa.
A arborização também foi ampliada, dialogando com
as estratégias de soluções baseadas na natureza (SbN). A partir do projeto
Arboriza Serra, praças, escolas, prédios públicos e locais ociosos foram
contemplados com o plantio de espécies nativas da caatinga, como ipê-rosa,
pau-ferro, paud’arco e canafístula.
Somente com a adaptação em iluminação natural e o
aproveitamento do sol sertanejo, Serra Talhada economizou 345 MWh em energia e
reduziu mais de 156 toneladas de CO2 no setor. De acordo com Eduardo Tadeu,
diretor executivo da Associação Brasileira de Municípios, os gastos com
iluminação pública consumiam entre 3% a 6% do orçamento municipal.
As lâmpadas convencionais foram trocadas pelas de
LED e o centro administrativo foi transferido para um novo espaço, com maior
circulação natural de vento, o que reduziu custos com refrigeração.
Serra Talhada inspirou outros 15 pequenos
municípios em todas as regiões do Brasil, todos signatários do pacto global, a
partir de um protocolo compartilhado com mais de 11 mil cidades signatárias em
142 países.
ÁRVORES E ENERGIA SOLAR
Uma das cidades signatárias é a paulista
Cordeirópolis, a 160 km da capital e localizada em um dos maiores polos
cerâmicos do Brasil. O município é afetado pela alta emissão de poluentes com o
trânsito diário de veículos que passam por algumas das principais rodovias do
Estado, a Washington Luís, a Bandeirantes e a Anhanguera, que cortam a área da
cidade, além de uma ferrovia.
“Tomamos como referência o Plano Climático de Serra
Talhada e identificamos que 60% das emissões na nossa cidade são decorrentes do
consumo de combustíveis (transporte); 26% do setor energético e 14% em
resíduos”, diz Joaquim Dutra, secretário de Meio Ambiente de Cordeirópolis, que
tem 25 mil habitantes.
A localização do município em cabeceiras de bacias
hidrográficas e o mapeamento dos impactos das mudanças climáticas nas
principais fontes de renda local, que decorrem da indústria, do comércio e de
transportes, levaram à adesão ao Pacto Global de Prefeitos. O plano climático
local deve ser lançado neste ano.
Foram plantadas mais de 130 mil árvores nativas no
entorno das nascentes de Cordeirópolis; foi construída uma nova represa de
abastecimento; e houve perfuração de poços artesianos. Para as escolas, o
município também levantou um aporte de mais de R$ 1,5 milhão para implementação
de energia solar.
Segundo a prefeitura, ações de educação ambiental
contínua nas escolas também já estão em execução.
“O inventário de emissões de gases de efeito estufa
embasou a criação da Comissão Municipal pela Ação Climática de Serra Talhada,
permitindo estabelecer metas e objetivos de mitigação, mas também de
adaptação”, disse Sandino Lamarca, Consultor técnico do Pacto Global de
Prefeitos pelo Clima e a Energia.
As prefeituras contam com o suporte técnico das
equipes de Serra Talhada para o inventário de gases de efeito estufa e para
criar planos de ação climática. “Toda essa assistência técnica foi feita de
forma gratuita”, afirma Lamarca.
O movimento de prefeitos brasileiros pelo clima tem
a cooperação da Associação Brasileira de Municípios, do Instituto Alziras, da
Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos e do ICLEI Brasil.
OUTRAS CIDADES
As outras cidades de pequeno e médio porte que aderiram ao pacto são: Abaetetuba, Barcarena e Parauapebas, no Pará; Brasileia, no Acre; Cáceres, no Mato Grosso; Cariranhanha, na Bahia; Formoso do Araguaia, no Tocantins; Francisco Morato, em São Paulo; Indiaroba e São Cristóvão, no Sergipe; Jandaíra, no Rio Grande do Norte; Niterói, no Rio de Janeiro; Sirinhaém, em Pernambuco; e Sobral, no Ceará.
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